Hacktivismo e Eleições 2018 – Falta combinar com os iranianos?

Tweets publicados por Walid Phares, 13/10, especialista em política externa vinculado à Fox News, sugere que o Irã e a comunidade de católicos do Iraque, Líbano e Síria estariam influenciado a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para que a entidade se volte contra o candidato Jair Bolsonaro. 

Tweet – Irã
Tweet – Irã

A tese apresentada pelo jornalista norte-americano parece ser de que o candidato Jair Bolsonaro não seria simpático ao Irã. Desse modo, a fim de garantir o apoio brasileiro em temas de política externa, a República Islâmica do Irã mobilizaria a comunidade católica do seu país, Iraque, Síria e Líbano para influenciar a CNBB em favor do candidato Fernando Haddad.

A notícia ganharia tração se associada a recente presença do candidato Fernando Haddad e Manuela D’Ávila em missa no Dia de Nossa Senhora de Aparecida.

PT Missa Haddad

De outro lado, não será a primeira eleição em que o PT frequenta missas com o objetivo de angariar simpatia do eleitorado católico. Em 2010, a então cadidata Dilma Rousseff esteve também em missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida.

PT Missa Dilma

Logo, as manifestações religiosas de candidatos à Presidência da República costuma acontecer durante o intervalo do primeiro e segundo turnos, sobretudo no dia 12 de outubro, data de Nossa Senhora de Aparecida.

Quanto à factibilidade da República Islâmica do Irã influenciar a CNBB, vale observar que segundo a Wikipedia, a população de católicos no Oriente Médio dos países citados nos Tweets:

  • Irã – 68.017.860 – <0,1% católicos
  • Iraque – 26.074.906 – 0,4% católicos
  • Líbano – 4.800.000 – 28,8% católicos
  • Síria – 18.448.752 – 2,1% católicos

São populações de pequena monta em termos absolutos do número de católicos, sendo que a sua capacidade de atuação seria significativa, pois mesmo a partir da sua localização no Oriente Médio conseguiriam influenciar a CNBB.

As assertivas indicadas pelo jornalista Walid Phares não indicaram as evidências a partir das quais foram constituídas, apenas uma menção a “fontes brasileiras” (Brazilian sources) seguidas por “fontes cristãs no oriente médio” (MidEastern Christian sources) teriam avisado o jornalista sobre a interferência iraniana na CNBB, e, como consequência, nas Eleições 2018. 

Considerando o momento de polarização existente em virtude da disputa presidencial, parece certo que uma notícia (ainda que carente de evidências robustas) tenha condições de provocar algum ruído em redes sociais e aplicativos de mensageria.

Novamente uma notícia – em 04/10 reportagem da Folha de São Paulo indicou interferência russa nas eleições 2018, conforme falamos aqui no Lab – de veículo de comunicação oficial (jornalista da Fox News) semeia dúvidas durante o período eleitoral. Agora parece razoável lembrar e emendar a anedota atribuída ao jogador da seleção brasileira de 1962, Garrincha: faltou combinar com os russos, com os iranianos, com os norte-americanos ou com os três?